Eu quis colocar a opinião de Alexandre
Cruz Almeida sobre dublagem, escrita em um artigo em seu site, porque senti a
necessidade de comentar cada parágrafo de sua “grande retórica”:
“...Ficou estabelecido,
então, que eu ter desligado o Magnólia dublado não foi nem preconceito e nem,
digamos, pirraça contra dublagem, pois como eu entendo inglês perfeitamente,
não haveria porque ver em
português. Mas , independente de tudo isso, dublagem é muito, muito ruim sim. E digo isso não só como consumidor/espectador, mas também como profissional da área (já trabalhei
muito com tradução e, durante dois anos, fui tradutor full time) e vítima (na minha condição de escritor/roteirista).”
Talvez, apesar de ter ficado tantos anos trabalhando nessa área,
Alexandre não tenha tido a oportunidade de entrar em um estúdio para saber como
se faz um filme e procurar entender tudo que se passa ali dentro para produzir
um filme dublado, o que me pasma.
“...A questão central é simplesmente definir qual método, dublagem ou legendas, é o menos intrusivo. A dublagem sacrifica o lado auditivo e torna impraticáveis filmes baseadosem diálogo. Monty Python , Woody Allen ou Irmãos Marx
perdem cerca de 60% do conteúdo se dublados. Melhor nem assistir.”
“...A questão central é simplesmente definir qual método, dublagem ou legendas, é o menos intrusivo. A dublagem sacrifica o lado auditivo e torna impraticáveis filmes baseados
Concordo que há filmes mal
dublados, mas isso não é motivo para generalizar a dublagem. Ele pode ser um
privilegiado por saber várias línguas, como diz, mas é preciso ressaltar que
vivemos num mundo onde existem pessoas semianalfabetas e analfabetas, que
precisam ter a chance de buscar mais
informação; de adquirir mais cultura, pela televisão ou não; que precisam
ouvir, já que não sabem ler, e essa chance é dada através dos filmes dublados.
“Muitos atores são conhecidos por suas vozes. É comum diretores escalarem determinados atores justamente por causa de suas vozes e timbres, dicção e sotaque. Tudo isso se perde na dublagem. Algumas vezes, a própria fama do ator vem de sua voz. Nunca vi Guerra nas Estrelas dublado, mas duvido que a voz do Darth Vader brasileiro seja mais sinistra do que a voz do James Earl Jones, por exemplo. A dublagem sacrifica os sotaques. O fato de uma southern belleem Nova Iorque ser zoada
por seu arrastado sotaque sulista pode fazer uma diferença vital na trama, mas
o espectador de um filme dublado jamais
saberá disso. Quem
vê Star Trek na televisão e não escuta o forte
sotaque russo do Chekhov não entende metade do personagem,
como ele se vê e como é visto pelos outros. Tudo perdido. “
“Muitos atores são conhecidos por suas vozes. É comum diretores escalarem determinados atores justamente por causa de suas vozes e timbres, dicção e sotaque. Tudo isso se perde na dublagem. Algumas vezes, a própria fama do ator vem de sua voz. Nunca vi Guerra nas Estrelas dublado, mas duvido que a voz do Darth Vader brasileiro seja mais sinistra do que a voz do James Earl Jones, por exemplo. A dublagem sacrifica os sotaques. O fato de uma southern belle
Na dublagem, quando um dublador
faz a voz de determinado ator/atriz, é dito que ele tem um boneco”. Isso é determinado para que a voz sempre seja
a mesma, todas as vezes que aquele ator/atriz específico fizer um filme,
mantendo assim a coerência da voz. Temos bons exemplos de dubladores que fazem
vozes famosas:
Newton da Matta – Bruce Willis.
Guilherme Briggs – Buzz Lightyear (Toy Story); Jim Carrey
Miriam Fisher – Drew Barrimore, Jennifer Lopez, Meg Ryan
Orlando Drummond- Scooby-doo, Popeye.
Ricardo Juarez – Johnny Bravo
Mário Monjardim – Pernalonga
Respondendo melhor ao comentário de Alexandre, escrevo aqui as palavras
de Briggs sobre seu melhor trabalho:
“Meu melhor trabalho, acho que foi Grinch. Nunca tinha me entregado tanto
a um personagem como fiz com ele. Cheguei até a ficar doente, com gripe e
febre, após horas e horas de gravação num estúdio gelado, e depois saindo no
calor do verão carioca. Mas valeu a pena, pois o próprio diretor da Universal,
que estava acompanhando todas as versões no mundo inteiro, disse que a dublagem
brasileira do Grinch tinha sido a melhor entre as trinta e poucas línguas em
que foi dublado. Fiquei muito feliz em saber e depois, mais ainda quando fui
assistir ao filme no cinema. Estavam todos muito bem, um filme com uma dublagem
perfeita, solta, espontânea e muito engraçada. “
Acontece muito de uma voz dublada ser muito melhor do que a original,
fazendo com que um determinado personagem se destaque até mais, em um
determinado filme ou desenho.
“É incrível imaginar as distorções que
podem ser causadas na cabeça de alguém que só assiste filmes dublados na TV
aberta. Imaginem um super fã do Schwarzenegger,
que viu todos os seus filmes, mas não sabe que ele fala com um carregadíssimo sotaque alemão. Imaginem alguém que assistiu a
vários filmes com a Jennifer
Tilly, até
acha que ela é boa atriz e se pergunta porque será que ela não faz mais filmes,
sem nunca saber que sua voz de
taquara rachada
é uma das mais insuportáveis de todos os tempos.”
Será que Arnold faria mais
sucesso no Brasil se todos nós ouvíssemos seu “sotaque alemão”? Foi por causa
desse sotaque que ele tornou-se governador da Califórnia e ganhou sete vezes o
concurso de Mister Olímpia? Seu sucesso, creio eu, foi seu físico. Alguém se
lembra do primeiro filme de Arnold, “ Conan, o Bárbaro”? O que quero
esclarecer, é que nenhuma voz original justifica uma boa atuação, sucesso ou
fama de nenhum ator. Ele é bom ou não é. A voz do dublador influencia sim no
resultado de uma dublagem, mas é por isso que existem os testes de escolha de
vozes. E, pelo que ele comenta da atriz Jennifer Tilly, sua voz dublada foi
muito melhor do que a da própria atriz, mas dizer que ela sumiu das telas devido
a voz de “taquara rachada”, é surreal. Senão, como ele explicaria o grande
sucesso da atriz Fran Drescher, do seriado “The Nanny”?
“Aqui em casa, minha
mulher assiste muita televisão. Muitas vezes, eu estou na sala trabalhando e
fico ouvindo os diálogos. É surreal. Parece que ela está sempre assistindo ao mesmo filme. Deve haver só uns 20 dubladores no
Brasil. São as mesmas vozes, programa após programa. As mesmas mocinhas, os
mesmos heróis, os mesmos bandidos. Imagino as dificuldades dos cegos. O Pikachu das 10h é o Paulo Otávio
das 18h e o traficante boliviano das 21h. Você não sabe nem quem visualizar,
nem como se orientar. “
Depois de ler esse artigo no site de Alexandre, e que não está na íntegra
aqui, devido a pequenos “desvios de linguagem”, enviei-lhe um e-mail pedindo
que respondesse algumas de minhas questões sobre tradução e dublagem, também
feitas a José Henrique Lamensdorf, já
que ele me parecia entender muito do assunto. Sua resposta foi, “Não tenho
contato com tradução e faz tempo que não trabalho nessa área. Não posso opinar
sobre dublagem, pois, nem tenho televisão em minha casa. Só assisto filmes no
original.”
No fórum Literatti, encontramos as
seguintes opiniões sobre dublagem:
Ontem tive uma experiência curiosíssima.Ganhei um DVD e ontem e tirei o filme Colateral para inaugurá-lo. Ainda sem prática não consegui programar o som em inglês com legendas em português e acabei vendo o filme com som e legendas em português, obviamente feitas por tradutores diferentes. As traduções diferiam, a da dublagem era mais solta do que a da legendagem e juntas produziam produzindo um efeito fantástico, digno de estudo.
1.Achei o efeito curioso, os meus ouvidos e a minha leitura produzindo simultaneamente imagens mentais diferentes, a partir das mesmas imagens na tela.
2. Não há juízo de valor no meu espanto.
3. Todos sabemos que a linguagem falada é mais "solta" que a escrita.
4. Creio que já há muita gente estudando a questão, embora, na minha humilde opinião, é preciso muita imaginação para alguém produzir uma tese polemizando a diferença entre fala e escrita no cinema.
5. Por outro lado, estou gostando muito dos casos e comparações levantados pelos colegas, por que enriquecem bastante a questão legendagem X dublagem, na medida em que têm por fonte o acontecido, ou melhor a percepção que seus contadores têm do acontecido”