Começo com a tradução encontrada no Michaelis para "Evidence" :
['evid2ns] n 1 evidência, prova, indício.
internal evidence / prova intrínseca ou inerente. a striking piece of
evidence / uma prova irrefutável. circumstantial evidence / provas
indiciadoras, provas indiretas, provas circunstanciais. forensic evidence
/ prova legal. 2 sinal, indicação, mostra. his letter gives
evidence of good education / sua carta é prova de boa educação. 3
testemunho, depoimento de testemunha. state’s evidence / Amer
testemunha principal. 4 testemunha. he was called in evidence /
ele foi intimado como testemunha. • vt 1 comprovar, evidenciar.
2 esclarecer. 3 atestar. to turn king’s evidence depor contra
o cúmplice.
Isso "prova" que a tradução de "Evidence" por "prova" é mais plausível! :)
Depois, em minhas andanças pela internet, encontrei um artigo escrito por Desidério Murcho (King's College London) que esclarece bem meu ponto de vista, de uma forma muito mais clara, pois não sou perita nesse assunto. Segue abaixo:
"Evidence"
Desidério Murcho
King's College London
"A palavra inglesa "evidence", tal como é usada nos contextos
filosóficos e não só, esconde subtilezas que dificultam a leitura e a tradução
de estudantes e professores, assim como do grande público. Em diferentes
contextos, pode-se traduzir "evidence" igualmente bem por
"provas", "dados", "indícios" ou
"informação". Mas a ideia subjacente é sempre a mesma: as provas a
favor de algo são as razões que justificam a crença nisso. Nestes contextos,
usa-se o termo "prova" no seu sentido não factivo; isto é, ao
contrário de uma demonstração, que é efetivamente uma prova definitiva, as
provas são derrotáveis.
Diz-se que um termo é factivo quando o que o termo qualifica é verdade.
Por exemplo, o termo "saber" é factivo, tal como o termo
"ver", porque "O João sabe que Sócrates era grego" implica
que Sócrates era grego, e "O João viu a Maria na praia" implica que a
Maria estava na praia. Um termo é não factivo quando não existe esta implicação.
O termo "acredita", tal como "talvez" e
"aparente", é não factivo porque "O João acredita que Kant era
grego" não implica que Kant era grego, nem implica que não o era — tal
como dizer "Talvez Kant fosse grego" (ou "Aparentemente, Kant
era grego") não implica igualmente que Kant era grego. Também há termos
contrafactivos: são termos como "falsa", ou "ilusório", que
implicam a negação da expressão que qualificam. Por exemplo, uma falsa vitória,
ou uma vitória ilusória, não é, de todo em todo, uma vitória.
O termo "prova" é não factivo: do fato de existir uma prova a
favor de algo não se segue que isso é verdade. Por exemplo, temos hoje muitas
provas a favor da ideia de que a teoria da evolução de Darwin é verdadeira; mas
daqui não se segue que a teoria seja realmente verdadeira — novas provas
poderão surgir que refutem a teoria. A consciência profunda de que as provas
não são factivas é uma das características que distingue a ciência, ou qualquer
atividade acadêmica séria, da religião — ou, pelo menos, das manifestações
menos sensatas da religião. Pois geralmente a religião encara as suas provas,
baseadas na autoridade e na tradição, como factivas (declará-las sagradas é uma
forma de evitar que tais provas sejam criticamente avaliadas, para assim se
manter a ilusão de que se trata de provas factivas).
As demonstrações da matemática e da lógica são provas factivas: se um
dado teorema está demonstrado, então é realmente uma verdade matemática ou
lógica. A única maneira de refutar a sua verdade é mostrar que houve um erro na
pretensa demonstração (cá está: "pretensa" é um termo não factivo),
que afinal não demonstra coisa alguma porque estava pura e simplesmente errada.
À exceção das demonstrações da matemática e da lógica, contudo, as
provas não são factivas. Não é preciso mostrar que houve um erro numa dada
prova a favor de X para mostrar que X é falso; basta que existam novas provas,
mais poderosas, a favor da falsidade de X. Por exemplo, uma impressão digital
de João na arma do crime é uma prova a favor da ideia de que João foi o assassino.
Mas outras provas poderão surgir que mostrem que foi Fonseca o assassino, ainda
que João tenha efetivamente mexido na arma do crime. Assim, para refutar o que
uma prova não matemática afirma não é preciso refutar a própria prova; mas para
refutar o que uma demonstração matemática afirma é preciso refutar a própria
demonstração.
A noção de prova é central em grande parte da epistemologia
contemporânea. A verificabilidade do positivismo lógico foi uma tentativa de
dar proeminência às provas de caráter observacional, por se julgar de algum
modo que isso é mais "científico" do que a argumentação. Contudo, não
se desejava apenas que a verificação fosse uma prova como qualquer outra, mas
antes uma espécie de prova factiva, semelhante às demonstrações em lógica e
matemática. E foi precisamente esse aspecto do verificabilidade que falhou
totalmente. As provas de caráter observacional não são factivas. Por mais
provada que esteja uma teoria empírica, ela pode sempre ser refutada por outras
observações, ainda que não se refutem tais provas; e perante o mesmo corpo de
provas observacionais, é sempre possível construir várias teorias incompatíveis
entre si, mas compatíveis com tais observações.
Infelizmente, a palavra inglesa "evidence" é fonética e
ortograficamente parecida com "evidência" — de modo que as traduções
enganadoras não se fizeram esperar. Ainda que um dos significados da palavra
portuguesa "evidência" seja o mesmo que "prova", o termo
raramente ou nunca é usado correntemente nesse sentido, e é muitíssimo usado no
outro. De forma que o uso de "evidência" no sentido de
"prova", sem quaisquer explicações, é didática e pragmaticamente
errado, pois confunde gravemente as coisas — o sentido primário será aquele
que, desavisado, o estudante terá em mente. Primariamente, uma evidência é algo
que é evidente; as evidências são as coisas óbvias ou evidentes. Por exemplo, é
evidente que a neve é branca, mas não é evidente que a Terra está em movimento;
contudo, há provas de que a Terra está em movimento. Nos casos de provas diretas
observacionais, como olhar e ver que a Maria está com um vestido verde, há
provas evidentes: a prova evidente de que a Maria está com um vestido verde é
que eu olho e vejo isso imediatamente. Isto significa apenas que a prova de que
a Maria tem um vestido verde é o fato óbvio de alguém olhar e ver. O que não
acontece com a prova de que a Terra está em movimento, a prova da composição da
atmosfera de Júpiter ou a prova de tribunal de que uma dada pessoa roubou
outra.
Evidentemente, há muitas complexidades filosóficas no que respeita tanto
às provas como às evidências. Contudo, sem uma compreensão clara dos aspectos
gerais e consensuais das provas e das evidências, não será possível compreender
as discussões especializadas desta área. E, pior, sem uma compreensão clara dos
aspectos gerais das provas e das evidências, não se pode ter uma vida
intelectual adequadamente estruturada. Isto para não falar na importância que
estas noções têm para uma vida pública saudável, que é demasiadas vezes
manipulada em desfavor da procura imparcial da verdade — precisamente porque
não se compreende a noção de prova e dificilmente se dá valor ao que não se
compreende."
E para complementar, segue um link interessantíssimo que encontrei sobre Investigação na Cena de um Crime. Como o tradutor é um eterno estudante e pesquisador, aprender nunca é demais. Vai que você recebe um filme ou série policial, certamente seu vocabulário aumentará muito!
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